A TEIA DO VÍRUS

A Teia do Vírus

A Teia do Vírus resulta de um processo de pesquisa no quadro da situação atual provocada pela pandemia de Covid-19, renovando o alerta para a mitigação do contágio. Procurou ainda debruçar-se sobre as enfermidades virais de forma genérica, comummente protagonizadas por partículas submicroscópicas com a capacidade de modificar ou controlar, e de maneiras tão inesperadas, o ambiente que faz do animal humano a espécie dominante no nosso planeta.

Um dos mais excitantes e gritantes aspetos da ciência é o facto de as suas fronteiras serem constantemente revistas e prolongarem-se ao mesmo tempo que novos progressos se lhes acrescentam. Neste argau científico colaboraram Carlos Neves e Filipa Schmidt. A capa da publicação, como de todas as outras, é assinada pelo Departamento gráfico da TELENIMA.



Introdução


Todas as pessoas – até as saudáveis – transportam alguns microrganismos, na pele ou no corpo, mas normalmente as defesas naturais do sistema imunitário impedem-nos de se tornarem prejudiciais. As infeções produzem-se quando o corpo é invadido por organismos patogénicos – bactérias, vírus, fungos, protozoários ou grandes metazoários, como a ténia, entre outros. Podem ter acesso ao organismo de diversas formas: pelo nariz e pela boca; por uma abertura na pele; ou por um contacto físico com uma pessoa ou objeto infetado.

Algumas destas infeções, como a constipação vulgar, são leves e efémeras; outras, como, a título de exemplo, o Tinea pedis, mais conhecido como Pé de atleta, são mais prolongadas, embora não ponham a vida em perigo. Por outro lado, certas infeções, tais como as que provocam mazelas na ordem da meningite, da poliomielite, do tifo ou da raiva (Lyssavirus), são extremamente perigosas. As infeções causadas por microorganismos protozoários, por oposição aos metozoários, ou organismos maiores têm o nome de infestações. Aqui os organismos que as produzem vivem como parasitas dos seres humanos.



Saúde Pública


O primeiro objetivo da saúde pública consiste em prevenir as doenças. Entre as suas responsabilidades contam-se: a regulação dos níveis de habitação e da densidade de população; a eliminação dos detritos domésticos e industriais; a manutenção da higiene pública; a verificação sanitária; e, finalmente, ingressando no âmago desta publicação, a eliminação das origens das doenças e infeções.



A infeção e os seus agentes


Os agentes infeciosos (patogénicos) mais comuns são as bactérias. Muitas delas vivem no corpo humano sem lhe causarem danos, sobretudo no tudo intestinal inferior, mas outras fomentam infeções leves ou graves, como os furúnculos, a amigdalite ou a pneumonia.

No que concerne a vírus, estes são menores que as bactérias, e só é possível observá-los através de um microscópio eletrónico. Entre as incidências virais contam-se a constipação trivial, a varicela, a já referida poliomielite e o herpes.

Contudo, as Rickettsias são agentes patogénicos pouco frequentes que se encontram nas pulgas e nos piolhos; sabe-se que têm características comuns com as das bactérias e dos vírus, e podem transmitir aos seres humanos doenças como o tifo epidémico.

Quanto a fungos, trata-se de organismos semelhantes a plantas que podem provocar diversas enfermidades como a tinha e o sapinho – nome vulgar para a monilíase ou candidíase.

Os protozoários são parasitas unicelulares que provocam doenças como a malária, a disenteria amebiana e a toxoplasmose. Já os metazoários são parasitas multicelulares, como as ténias e os piolhos.



Propagação


As doenças propagam-se de diversas maneiras. Por exemplo, a poliomielite e a cólera transmitem-se entre humanos através da água contaminada. Muitos vírus, como os que causam a varicela, entre outras enfermidades, propagam-se através de gotículas que se espalham no ar quando um portador da doença espirra, tosse ou expira. As doenças como a gonorreia e a sífilis, que se transmitem por contacto sexual, denominam-se doenças venéreas.

Pode haver organismos infeciosos no sangue, mas também na saliva, no escarro e nas excreções (fezes) de uma pessoa infetada. Os alimentos podem ser portadores de germes, sobretudo se não estiverem frescos ou recentemente cozinhados, ou se tiverem sido contaminados por insetos transmissores de doença, como as ténias ou as salmonelas, entre muitos outros.

Algumas doenças aparecem por contágio direto, através de animais. É este o caso, por exemplo, da psitacose, que é transmitida por certas aves (especialmente papagaios) e da raiva. Neste caso a saliva de animais infetados é, por excelência, o meio de transmissão.

Outro fator importante, é uma ferida aberta que pode infetar se entrarem bactérias em contacto. A mais grave dessas infeções é o tétano, causado pela toxina do Clostridium tetani e que se produz quando os bacilos tetânico – muito vulgares no solo – penetram no corpo através de uma ferida suja. O tétano pode (e deve) ser evitado através da vacinação; mas, se chegar a desenvolver-se, poderá ser mortal.



Transmissão da Covid-19


Os estudos indicam que o vírus que deu origem ao surto oficialmente encetado em Wuhan, China, isto é, o novo coronavírus SARS-CoV-2 que provoca a doença COVID-19, transmite-se através de contacto direto e indireto. No primeiro caso a disseminação de gotículas respiratórias ocorre quando por exemplo, uma pessoa infetada tosse, espirra ou fala. A via indireta verifica-se mediante o toque das mãos com uma superfície ou objeto contaminado e que, em seguida, contactam com a boca, nariz ou olhos.

Os principais sintomas associados à infeção pelo COVID-19 são a febre, com temperaturas superiores a 38 graus, tosse e dificuldade respiratória. Sabe-se, no entanto, que o novo coronavírus assenhoreia a capacidade de ser propagado por indivíduos sem sintomas. Com efeito, os cientistas distinguem, na atual pandemia, três categorias de infetados assintomáticos, agentes de transmissão: os que contaminam outros, adoecendo dias depois; os que nunca chegam a ter sintomas; e os que, após recuperação, continuam a poder transmitir a doença.

A Organização Mundial da Saúde admite que afinal o vírus (coronavírus) pode ser transmitido pelo ar. Esta tese baseia-se em testes científicos. A via aérea é um meio de transmissão do coronavírus, e não apenas por gotículas respiratórias. Aliás, uma carta assinada por vários investigadores, entre eles portugueses, veio alertar para esta forma de transmissão.

Neste trabalho estiveram envolvidos especialistas de 32 países de áreas tão diferentes como engenharia química, mecânica de fluidos ou virologia. O avanço vem demonstrar que há partículas ínfimas do vírus capazes de longas viagens. Muitos vírus têm de facto a particularidade de se poder agregar nas gotículas da humidade do ar (naturais). Neste caso, espaços fechados como escritórios ou zonas comerciais com ventilação deficiente podem ser locais propícios à disseminação dos vírus. O ar condicionado, apesar de pouco vulgar, é uma via de contágio.



Prevenção


A higiene é sem dúvida a chave da prevenção contra muitas doenças. Entre os princípios higiénicos básicos contam-se os seguintes: lavar as mãos antes de tocar nos alimentos; cobrir as feridas existentes antes de tocar em alimentos; muita higiene nos quartos dos enfermos e não só, e desinfeção ou destruição dos lenços e ligaduras usados; sem esquecer de lavar em separado os talheres, a louça e a roupa do doente.

Também é muito importante observar a máxima higiene ao viajar pelo estrangeiro, devido à possível existência de germes patogénicos a que o corpo não está acostumado, e receber todas as vacinas recomendadas antes de iniciar a viagem. É um bom princípio cuidar bem da limpeza dos animais de estimação e lavar as mãos depois de lhes tocar – especialmente antes de manusear alimentos ou qualquer objeto que esteja em contacto com eles. É mais do que recomendável, em qualquer caso, que cada pessoa da família tenha o seu próprio toalhete, toalha de rosto, escova de dentes e pente.

Prevenir certas enfermidades virais podem, mediante situações de emergência, suscitar a tomada de medidas de caráter excecional. O estado de emergência sugere um conjuto de medidas restritivas consolidadas e de último recurso. Nestes casos as condições especiais podem incidir no uso de equipamentos ou dispositivos, inclusive no âmbito da etiqueta respiratória, e/ou nos costumes, como no caso das Saudações ditas sanitárias ou no dever cívico de recolhimento domiciliário, entre outros.

O organismo tem diferentes sistemas para prevenir e combater as infeções. A pele impede que penetrem no corpo muitos microrganismos, e os coágulos sanguíneos e reparação dos tecidos fecham rapidamente todas as feridas leves. As amígdalas, adenoides e as membranas mucosas do nariz e da garganta retêm eficazmente os germes inalados. Os gânglios linfáticos, dispersos por todo o organismo, produzem anticorpos contra as infeções que ultrapassam as defesas exteriores, e o fígado pode destruir diversas toxinas patogénicas. Os leucócitos atacam germes invasores e o sangue também contém anticorpos por eles produzidos em reação à infeção, que proporcionam proteção (imunidade) contra ataques posteriores desses mesmos germes. Estes foram apenas alguns exemplos.

A imunidade provém principalmente do sistema imunológico natural do organismo, mas também existe imunidade adquirida. Os recém-nascidos, por exemplo, herdam anticorpos da mãe e adquirem outros através do leite materno. Outros ainda podem desenvolver-se ao longo da vida como reação a infeções específicas. A imunidade pode também ser induzida artificialmente através de uma vacina, que, no fundo, consiste na introdução (no corpo) de agentes patogénicos mortos ou enfraquecidos, que estimulam a produção de anticorpos.



Imunidade


Se pensa que, ao fazer um teste serológico, fica a saber se está imune contra o vírus que origina a COVID-19, desengane-se. Além de não haver certezas quanto à fiabilidade, desconhece-se o grau de proteção conferido pelos anti-SARS-CoV-2, as proteínas que o sistema imunitário produz para se defender do vírus. Com efeito, não há, ainda, evidência científica robusta a indicar que a presença de anticorpos anti-SARS-CoV-2 confere imunidade em caso de recidiva. Para avaliar esta relação, é necessário acompanhar os pacientes ao longo do tempo.

Um estudo britânico, publicado a 19 de novembro de 2020 num site para profissionais de saúde, medRxiv, sugere que quem dê positivo em testes serológicos, após uma primeira infeção, fica imunizado durante seis meses. Contudo, 89 dos 11 052 participantes no estudo que não tinham anticorpos, voltaram a desenvolver formas sintomáticas da doença. Em contrapartida, nenhuma das 1 246 pessoas que tinham anticorpos desenvolveu uma forma sintomática.

Existem de facto indicações de que as pessoas que contraíram uma forma grave de COVID-19 têm respostas imunitárias mais fortes, tal como se observa noutras doenças causadas por coronavírus: Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS). Com efeito, ambas desencadeiam altos níveis de anticorpos que duram até dois anos, e as respostas das células T à SARS-CoV-1 (responsável pela SARS) podem ser detetadas durante ainda mais tempo.

Por outro lado, outro estudo, também ele muito recente, realizado por investigadores chineses revela que pacientes com episódios muito graves de COVID-19 podem ter desenvolvido anticorpos ineficazes, tornando-os mais vulneráveis a uma reinfeção mais grave. Por enquanto os casos de reinfeção não mostraram sinais de um agravamento da doença no caso da Covid, muito embora os investigadores também não excluam esta hipótese.

Ainda há pouca evidência sobre o comportamento do vírus e a forma como o sistema imunitário responde na sua presença. Os estudos prosseguem a um ritmo constante. A vantagem de um teste serológico, mesmo que fiável, é praticamente nula por enquanto, pelo menos, no que respeita à determinação da imunidade contra este vírus: um teste positivo, que indica a presença destes anticorpos, não certifica ausência de risco, nem justifica que se descurem as medidas de proteção.



Imunidade de Grupo


Desde o aparecimento da Covid-19 tem-se falado, com alguma perseverança, de imunidade de grupo. A imunidade de grupo, por definição, pode ser obtida pelo desenvolvimento de imunidade natural, progressiva e por intermédio de uma parte da população depois de ter sido infetada, ou artificialmente, de forma acelerada, por meio de vacinação. Existem teorias mais otimistas do que outras. Há quem defenda percentagens na ordem de apenas 10%. Outros, menos confiantes, estimam que esse estado de proteção só será atingido a partir dos 60% dos infetados.

No âmbito da imunidade populacional, procurando determinar a proporção dos portugueses que desenvolveu anticorpos contra o SARS-CoV-2, por região e grupo etário, em setembro de 2020 o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) lança-se naquele que será o primeiro painel serológico para a COVID-19 de cobertura nacional alargada e representativa. A iniciativa, traçada logo após o desconfinamento e que junta epidemiologistas, imunologistas, microbiólogos e virologistas do iMM e Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, visa dotar Portugal da mais completa (e contínua) avaliação já realizada sobre a prevalência da infeção no país. Para o efeito, o estudo conta com uma colheita de 12.000 amostras (elegíveis) que serão acompanhadas durante 12 meses.

A participação no Painel Serológico Nacional supraindicado é gratuita, estando apenas sujeita a elegibilidade. Para conhecer os requisitos exigidos, lista de Municípios participantes e respetivos postos de colheita e participar, basta aceder ao site www.painelcovid19.pt. Para esclarecimentos ou informações de natureza científica relacionada com o estudo deve enviar um e-mail para serologia@medicina.ulisboa.pt. Todas as respostas alusivas à proteção e/ou privacidade dos dados pessoais poderão ser obtidas através do e-mail imm-legal@medicina.ulisboa.pt.



Vacinas


Uma área de investigação concentra-se nos vírus, causadores de doenças. Se recuarmos significativamente no tempo constatamos que esta progrediu desde a febre-amarela até à vulgar constipação. Na realidade, a invenção antivírus mais importante de todas foi talvez aquela que venceu a poliomielite (pólio). Sobejamente focada nesta publicação de 2020 A Teia do Vírus, a poliomielite, que em casos mais graves pode levar à paralisia nos membros inferiores, era muito temida. Em 1950, existiam 33 000 casos só nos EUA. Nessa altura, a pesquisa para encontrar a vacina estava já muito avançada.

Em 1939, o presidente Roosevelt, também ele vítima da poliomielite, tinha criado a Fundação Nacional de Paralisia Infantil (NFIP) para subsidiar a pesquisa. Em 1954, a fundação testava a vacina em 1,8 milhões de crianças, o que constitui a maior experiência clínica da história. Os resultados foram considerados miraculosos: nenhuma criança contraiu a doença.

Existiam, contudo, ainda alguns problemas a resolver. A vacina do NFIP, desenvolvida por Jonas Salk, não era totalmente eficaz contra as três formas de pólio. Além disso, o tratamento fazia-se com injeções (até oito doses). Tudo isto foi solucionado pelo virologista russo Albert Sabin, com a sua vacina mais eficaz e de rápida ação, administrável oralmente. Depois disso, e ainda hoje, a vacinação é a única forma de prevenção.

De facto, as crianças, os adultos e os animais são vacinados contra as doenças segundo os princípios estabelecidos pelo naturalista e médico britânico Edward Jenner, em 1796.

No que concerne à terapêutica contra uma doença que – à escala mundial – teve uma transmissibilidade e impacto importantes e causou uma disrupção igualmente impetuosa naquilo que é a economia, prossegue a fervorosa corrida mundial à cobiçada vacina conta o novo coronavírus. Mais de 100 vacinas estão a ser testadas um pouco por todo o mundo. A eficácia de uma vacina – livre de efeitos colaterais significativos – só pode ser obtida mediante ensaios clínicos, e estes implicam linhas de pesquisa incontornavelmente longas e complicadas, apinhadas de revisões. Alguns cientistas defendem um percurso mais curto, adaptando a preparação biológica destinada à SARS à vacina contra o novo coronavírus. Por outro lado, muito provavelmente consideradas produtos lucrativos para um sem-número de empresas do setor farmacêutico, as vacinas aparecem associadas a outro problema muito atual: a Desinformação.

Para já, sabe-se que a União Europeia (UE) selecionou seis vacinas que considerou valer a pena investir no desenvolvimento e aquisição. Alcançados os projetos vacinais seguros e eficazes contra a Covid-19, Portugal terá direito a seis milhões e 900 mil doses, num total de 300 milhões de vacinas reservadas pela UE.

Uma questão (complexa) que continua a acender discussões em todo o mundo centra-se na possibilidade de tornar a vacinação obrigatória. Para os mais atentos, em cima da mesa, no contexto da atual pandemia, a obrigatoriedade enfraquece quando confrontada com uma vacina eventualmente pouco segura, que não tenha sido adequadamente testada e/ou cujos efeitos secundários não sejam comunicados de forma transparente.

Posto isto, à data desta publicação a informação noticiada na imprensa, depois de devidamente analisada tendo por princípio a defesa tanto em termos da saúde como da segurança dos leitores, não aufere, para já, os créditos exigidos. Não se tratando, este, de um site dedicado à disseminação de imprecisões, nem tão‑pouco ao serviço de táticas eventualmente políticas, não o desapossando, porém, da sua liberdade de expressão, tais conteúdos, apesar de difundidos em certos órgãos de comunicação social, estão sujeitos a verificação neste espaço.



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