Darwin e Nós

Não há dúvidas de que quando se pretende trabalhar para e com as pessoas, tudo gira à volta da sua anatomia psíquica. A fórmula é abrangedora, bastante elementar e decisiva: é preciso conhecer o passado para entender o presente. Com base nestes dois elementos fulcrais é então possível calcular, traçar e/ou deduzir o futuro (ver publicação relacionada: Ser ou Parecer, eis a questão!)

A Origem das Espécies de Charles Robert Darwin
Em 1859, a publicação da obra de Darwin A Origem das Espécies irrompeu no mundo teológico como o arado num formigueiro. A teoria de que o homem descende de um primata inferior fez estremecer os alicerces do Vaticano. Para calar semelhante heresia, que parecia regalar o Genesis a uma fábula, a Igreja católica criou organizações científico-religiosas e tirou os seus prebostes das palestras com a intenção de desprestigiar Darwin e os seus acólitos.

Com este propósito, foram convidados Samuel Wilberforce, bispo de Oxford, e outros clérigos para a reunião da Sociedade Britânica de Oxford de 1860. Atraídas pela expectativa do debate, cerca de 700 pessoas acorreram ao museu da cidade. Um atrás do outro, os representantes da Igreja foram-se levantando para rebater as ideias darwinianas.

O australopitecos - Darwin e Nós
o Australopithecus anamensis, o nosso parente mais remoto
O último a tomar a palavra foi o bispo Wilberforce, um incontestável mestre na oratória sagrada e na melindrosa arte de exacerbar os preconceitos, que, dirigindo-se ao fisiólogo Tomas Huxley, perguntou: 'Darwin pretende descender de um macaco por linha do avô ou da avó?' A chacota episcopal terá provocado uma sonora e frenética gargalhada no auditório. Não há dúvidas de que, se o bispo pudesse levantar hoje a cabeça, ao abdicar seguramente deste tipo de conhecimento, desejaria regressar sem grandes cerimónias para o seu descanso eterno.


Salvo os criacionistas, hoje ninguém duvida de que os humanos são primatas e que, como tal, têm um parentesco evolutivo com criaturas tão díspares como são os saguis, os macacos e o gorila. No mundo biológico, os laços de irmandade tornam-se mais patentes. A maioria dos cientistas concorda em dividir a estirpe dos primatas em três grupos: os társios, os prossímios e os antropoides. Este último reune os primatas superiores: os macacos do Novo Mundo (platirrinos) e os do Velho Mundo (catarrinos), incluindo a espécie humana.

Darwin e Nós - Raquel Pimentel
Apesar das explicações pouco 'protuberantes' com os australopitecos, criaturas simiescas, a alegarem posturas hominídeas há cinco milhões de anos, considera-se iniciada a aventura da evolução humana.


Pensar com Matemática


A Matemática nas escolas


Porque será que estudantes sagazes, brilhantes e inteligentes evitam a todo o custo a Matemática? Ela é a chave para o sucesso científico, tecnológico, industrial e comercial, mas poucos são os que a ela se dedicam com prazer. Relatórios emitidos por entidades como a Sociedade Americana de Matemática têm vindo a apresentar, nos Estados Unidos, números preocupantes de doutoramentos na área. Esta preocupação não é nova. Na década de 80, o presidente do Comité da Sociedade, Edward A. Connors, declarou, ansioso, que isso representa uma ameaça para a segurança nacional e para a competitividade económica do país, no cenário internacional. Talvez devêssemos relacionar estas declarações com o atual panorama económico.

Muitos foram os alertas publicados no jornal de circulação diária The New York Times. Alguns provenientes da então chefe de orientação curricular da Universidade de Wesleyan, Sheila Tobiss. Preocupada com os sintomas de ansiedade na matemática dos jovens estudantes, em 1975, Sheila decidiu abrir uma Clínica para Ansiedade Matemática. Colocou símbolos matemáticos por toda a parte do edifício. Como parte do tratamento, encorajou os ’pacientes’ a falar das suas experiências nessa área. O sucesso dessa terapia era bastante motivador, antes de embater noutros obstáculos (posteriores) de peso como a Geometria. O abrandamento do ’curativo’ não desanimou Sheila Tobbis. Reduzindo as metas a atingir, a «Terapêutica de Tobbis» limitou-se a assegurar as bases essenciais de Matemática nos recém-formados em História ou Literatura, por exemplo.

Raquel Pimentel - Pensar com Matemática
A Geometria bloqueou os intentos de Sheila Tobbis

Independentemente das estratégias enfadonhas ou hábeis de ensino bem atuais, persiste o mito de que a Matemática trata de um assunto esotérico, necessário somente aos génios científicos. Os métodos de ensino são frequentemente apontados como principal causa. Falar, pensar e sobretudo escrever sobre Matemática é raro na escola, embora seja uma constante entre os profissionais. Indenpendentemente do ramo de atividade, não existe reunião prezável sem cálculos e raciocínios apoiados em números. Os estudantes imaginam que é preciso decorar para saber; os especialistas, ao contrário, preferem trabalhar as ideias, mesmo quando esquecem a tão ’santificada’ fórmula. É verdade que, para trabalhar as ideias, seria necessário desfrutar de um grau de liberdade que não existe na escola. Os livros, em geral, são manuais de instruções que não fixam a atenção dos formandos, impedindo-os de estabelecer aquilo que os psicólogos chamam de 'reforço espiral': insistir num mesmo ponto, aumentando, gradativamente, o nível de compreensão. Isto deve-se ao facto de que, na maioria das vezes, os assuntos são apresentados ao contrário do que sucedeu no processo de criação.

Raquel Pimentel - Pensar com Matemática (publicação)

Ou seja: uma vez completados os teoremas e suas demonstrações, toda apresentação simbólica e verbal é reorganizada e polida segundo os cânones do método dedutivo. Isso dificulta a compreensão, pois elimina o processo de descoberta e não documenta o traço mais humano da produção. Muitas vezes sonega até mesmo a informação de que o produto final apresentado é o resultado de séculos de pensamentos, erros e acertos de centenas de mentes brilhantes. Talvez seja um consolo saber que alguns erros cometidos durante a escolaridade podem ter sido problemas que a humanidade levou séculos a vencer. Todos nós conhecemos no nosso círculo um ou dois elementos vocacionados para a aridez da matemática. Traçar a súmula do perfil destes especialistas não deixa de ser interessante. Matemáticos não são as pessoas mais inteligentes, necessariamente. São apenas aquelas que se conhecem bem. Sabem quando devem folhear um livro e quando se devem deter longa e atentamente sobre um determinado parágrafo. Não se julgam tão severamente quando não encontram a tão procurada resposta exata. São pacientes, tenazes e raramente muito rápidas.

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Percepção subliminar


Chama-se 'percepção subliminar' aos estímulos emitidos abaixo do limiar da consciência humana e que influenciam, de algum modo, os nossos atos, pensamentos ou sensações. Existem muitas aplicações do audiovisual enquadradas neste tipo de percepção, sobretudo quando se trata dos chamados 'estímulos subliminares de curta duração', isto é, palavras, sons ou imagens que nos são apresentados em lapsos de menos de 100 milésimos de segundos e que não podem ser captados conscientemente pelos nossos olhos e ouvidos.

Num trabalho clássico dos anos 80, um grupo de psicólogos expôs vários voluntários a uma experiência. Escolheram-se 20 octógonos de forma irregular que foram projetados num ecrã com um intervalo de um milésimo de segundo. Naturalmente, nenhum ser humano é capaz de apreender uma imagem a tal velocidade, pelo que, quando se pediu aos voluntários para reconhecerem os octógonos que tinham visto, não conseguiram fazê-lo. Aparentemente, não tinham visto nada. A surpresa chegou quando os psicólogos pediram aos voluntários que escolhessem, de entre um grupo maior de octógonos, aqueles de que mais gostavam. Nessa altura, escolheram os octógonos que antes haviam sido projetados subliminarmente. A análise estava feita e as conclusões tiradas.

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Imagens subliminares projetadas em 100 milésimos de segundos

Muitos estudos de laboratório (estrangeiro) demonstraram não apenas a existência destas mensagens como a sua influência em certas tomadas de decisão e apreciações. Devido a estas descobertas, o mito do poder do subliminar cresceu consideravelmente nos últimos anos, favorecendo a divulgação de algumas afirmações espectaculares que carecem de fundamento científico claro.

Tudo começou em 1957, quando o prospector de mercado James Vicary declarou que, durante seis semanas, tinha incluído subliminarmente a mensagem «Come pipocas, e bebe Coca-Cola» entre as imagens do filme Piquenique, num cinema de Nova Jersey. Segundo Vicary, o consumo desses produtos aumentou entre 18 e 57 por cento. Embora a sua experiência o tivesse conduzido à fama, o certo é que nunca forneceu pormenores sobre como realizara o teste e chegou mesmo a afirmar, numa entrevista, que tudo não passara de um 'truque de marketing'. A fama das mensagens subliminares não foi afectada por isso. De facto, aprofunda-se constantemente tácticas sobre palavras, gestos ou símbolos de determinado conteúdo ocultos em anúncios, filmes ou séries televisivas, com o objetivo de influenciar as decisões dos consumidores. A fé no poder dos estímulos subliminares chegou a levar à comercialização de material com conselhos para ser feliz ou para desenvolver múltiplas habilidades enquanto se dorme ou ouve música.


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O nosso inconsciente também vê

Os investigadores do comportamento humano utilizam algumas técnicas como a conhecida 'hipnose' para penetrar nos labirintos desconhecidos do nosso inconsciente. Mas há ainda muitas dúvidas sobre as futuras aplicações terapêuticas desta imersão. "Uma possível utilidade", explica Jenny Moix, professora de Psicologia da Universidade Autónoma de Barcelona, "poderá ser o diagnóstico de fobias". Parece que os psicólogos estão dispostos a arrepiar caminho: assim se explica a grande quantidade de investigações científicas realizadas nos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha, nos últimos anos, em torno do inconsciente. Por exemplo, para averiguar que aspecto da viagem de avião atemoriza um paciente que, como eu, tem medo dos voos, podem utilizar-se mensagens subliminares com palavras como 'asas', 'motor' ou 'cabina' e observar a reação do indivíduo perante cada uma delas. Um passo adiante nesta técnica seria ir aumentando o grau de consciência dos estímulos até se tornarem plenamente perceptíveis, como terapia anti-fobia.

Porém, a única coisa que a ciência conseguiu demonstrar é que estas mensagens podem ser apreendidas, de algum modo, pelo nosso 'outro eu'. Todavia, não foi, ainda, provado que uma pessoa possa iniciar/praticar um ato guiada por um estímulo subliminar; mais do que isso, sabe-se que, na ausência de sedativos no processo, o nosso comportamento só pode ser modificado mediante a aceitação consciente de estímulos que nos indicam como proceder ou agir. Como a ciência nos diz, um estímulo subliminar não pode levar uma pessoa a beber um refesco ou a comer pipocas contra a sua vontade, nem pode ajudá-la a jogar melhor futebol ou a abandonar maus hábitos, como pretendem alguns produtos 'milagrosos'


Na próxima publicação será abordado o conhecido 'efeito Poetzl' e listados alguns exemplos científicos utilizados para descobrir o mecanismo da mente silenciosa.

Dicas Para Melhorar a Voz


A título de exemplo, tem reparado na postura de um apresentador de telejornal? Se achar que aquela postura é natural, isso significa que, apesar da sua dedução estar errada, a técnica existe e que a sua adoção foi corretamente aplicada.

A dupla de psicólogos Anette Liebler e Peter Borkenau estudou a valoração de um grupo de pessoas filmadas enquanto realizavam um teste de inteligência. Setenta por cento das opiniões emitidas pelos observadores da experiência adaptavam-se à realidade. No entanto, quando os psicólogos suprimiram a voz das gravações, a maioria das avaliações resultou inconclusiva. Por isso, tudo aponta para que, no que diz respeito à imagem formada sobre a inteligência, a voz e forma de falar estão profundamente interligadas. Por outro lado, parece que valorizamos o caráter guiados por estímulos chave como o sorriso, a amabilidade ou o contacto visual. Em consequência, as possibilidades de errar aumentam proporcionalmente à ausência desses estímulos.

Raquel Pimentel - Dicas para melhorar a voz
O Dr. Passos Coelho(*) controla muito bem os gestos e domina perfeitamente a voz (pausas, respiração, etc.). Dificilmente este indivíduo irá cometer gafes.

A ajudante judiciária Jo-Ellan Dimitrius engana-se menos do que muitos outros dos seus colegas ao avaliar as pessoas, talento que vê recompensado com receitas significativas. Jo-Ellan deve o seu trabalho a uma singularidade do direito penal dos Estados Unidos, que permite à defesa aceitar ou recusar os membros do júri, em processos de envergadura, em função das respostas dadas num interrogatório. A ajudante judiciária intui, a partir de detalhes aparentemente insignificantes, se a posição dos nomeados para o júri, relativamente ao réu, é de solidariedade ou de hostilidade.


Falar em público


Mas antes de mais, lembre-se que falar corretamente não se confina a uma boa respiração, dicção, pronúncia, emissão de voz ou distribuição das pausas. Se pensa que saber lidar com o público é o mesmo que extasiar ou graçolar nas redes sociais, desengane-se. Pisar o palco e enfrentar o público ou as câmaras, isto é, submeter-se frontalmente aos humores de milhares de pessoas, requer outro tipo de coragem e certamente outro tipo de vocação, bastante menos artificiais como é óbvio. De facto, se falar em público, com a intenção de informar, entreter ou influenciar, envolver plateias e multidões, a pressão é intensa. Aqui, uma má experiência pode revelar-se desastrosa, e em certos casos traumatizante. Tanto como saber dizer é necessário saber o que se diz. Uma postura confiante, objetiva e tranquila, completada por uma perfeita dicção, pressupõe a inteira compreensão do texto, da sua importância e do seu significado; em suma, o conhecimento completo das diretrizes, do script e dos objetivos a atingir. Em certos casos, o orador tem de possuir uma cultura geral - bastante favorecida - que lhe permita assimilar os pensamentos e dominar um determinado vocabulário, pois só assim todas as ideias que um texto mais complexo encerra confluirão para o verdadeiro e único sentido.

Se bem que este artigo tenha principalmente a ver com a voz, necessitamos de facto de conhecer um pouco melhor certos tópicos. Para os leitores que não estejam bem dentro destes assuntos, a abordagem seguinte pode tornar-se útil.


Respiração


Eis a fundação de toda a arte de dizer. Saber respirar, ao locutor, cantor, ator, político ou qualquer outro profissional cujo ofício necessita dos seus atributos vocais, é tão essencial como para nós se torna indispensável essa função natural, mesmo sem se saber como ou porquê se respira. É a respiração que orienta a articulação, a pontuação, a gesticulação e o próprio gesto. Portanto, não seria possível infletir ou apenas entoar, sem que a respiração - utilizada com determinada técnica - intervenha a desempenhar o seu papel fundamental.

Por um lado, respirar pode resumir-se a um fenómeno orgânico, natural e espontâneo, pois o ar que nos rodeia fornece aos tecidos do nosso corpo o oxigénio de que necessitam para oxidar os nutrientes derivados do sangue, a fim de proporcionar energia aos processos vitais. À exclusão daqueles animais suficientemente pequenos para que o oxigénio alcance as suas células por simples difusão (entrando e saindo através de aberturas no corpo), a respiração é o processo pelo qual o corpo adquire esse oxigénio e expulsa o dióxido de carbono residual. Em suma, quando observada em termos mecânicos, a respiração é efetuada pelo abaixamento do diafragma e elevação da caixa torácica, para a expansão dos pulmões e inspiração - depois o diafragma descontrai-se e a caixa torácica baixa, provocando a expiração. Deve-se ter presente que para o profissional, porém, saber respirar representa muito estudo, um método trabalhoso e complexo de dominar a sua expressão, passando pelo recorte dos volumes de voz, a intensidade melódica ou o timbre.

O mecanismo que gera a voz humana pode ser subdividido em três partes: os pulmões, as pregas vocais dentro da laringe e os articuladores - lábios, língua, dentes, palato duro, véu palatar e mandíbula.

A respiração abdominal (abdómino-diafragmática) é a mais indicada para os cantores ou atores (e alguns políticos), sobretudo porque facilita os seus movimentos, tornando-os mais 'elásticos' e, sem grande esforço ou cansaço, armazena uma grande quantidade de ar. Esta tática permite que o gesto se forme durante a inspiração. Sem ela é praticamente impossível dizer bem. Este tipo de respiração é que gera a conhecida 'voz do peito', de uso mais comum no teatro. A respiração abdominal é, na verdade, a primeira manifestação orgânica; a mais natural ou espontânea, embora seja a menos utilizada. Com efeito, é interessante verificar que só as crianças, e depois os idosos, recorrem a ela. Entretanto, isto é, na idade mediana, a respiração torácica dita 'costal' é quem domina a tendência respiratória no ser humano. Esta respiração revela-se incompatível com palcos ou tribunas porque, para além de fatigante, durante a inspiração provoca uma gesticulação forçada e inestética exercida ao nível dos ombros. Além disto, deixando esta movimentação dos músculos intercostais ou da cavidade torácica para publicações futuras, lembre-se apenas que, frente ao público, o gesto e a mímica fazem-se durante a inspiração e a voz é emitida por força da expiração.


Dicção


Voltando brevemente à respiração, para uma boa dicção a respiração pela boca é o método acertado. Neste caso, renova rapidamente o armazenamento de ar, estimulando com mais facilidade os órgãos mímicos que tornam a voz mais expressiva, mais sonora e indubitavelmente de timbre mais claro. No entanto, verdade seja dita, a respiração pela boca, e nisto se for utilizada de forma contínua, faz enrouquecer. Uma das soluções passa por, nas pausas mais longas, aproveitar o intervalo para respirar lentamente pelo nariz, dando descanso à garganta (naturalmente sufocada e seca).


Pronúncia


Esta enforma outro aspeto extremamente importante para os profissionais; pouco valorizado por uns e causador de grande apoquentação noutros. Sabe-se que entre as situações altamente suscetíveis de forçar parte dos ouvintes ou dos telespectadores a recorrer ao replay (quando o equipamento ou a emissão o permite), contam-se os problemas ligados à pronúncia ou dicção do locutor/apresentador. A palavra tem uma forma correta de ser pronunciada, isto é, deve ser dita, ou declamada, de acordo com as normas definidas pela ortoépia. Se as palavras forem cuidadosamente articuladas, evitar-se-ão os erros gramaticais e a pronúncia será correta e corrente.

Os defeitos mais comuns que normalmente contaminam a boa pronúncia resultam da voz nasalada, troca de letras, da fala ciciosa, do balbuciar, do falar precipitado, do 'R' gutural ou do gaguejar. Estes são alguns dos erros graves que prejudicam o modo de dizer e comprometem a interpretação do texto.


Emissão de voz


Não menos importante, este tópico diz respeito à intensidade com que é expedida a voz; desde o simples falar ao gritar e do sussurro ao gemido. Por exemplo, a emissão da voz utilizada em teatro diverge daquela que é defendida em televisão. Alguns atores manifestam dificuldades de adaptação quando entrelaçam os dois meios. Pois há que calcular a que distância a que nos queremos fazer ouvir e com que suporte técnico. Para além da distância, considera-se ainda as circunstâncias ligadas aos intervenientes ou personagens em estúdio (ou cena), e a média de intensidade que servirá de base para a modulação e 'revelar' os vários sentimentos implicados no guião.


Exercícios e recomendações


Existe um grande número de seminários e cursos destinados a educar a fala, mas, tal como prometido no post anterior «Ser ou Parecer, Eis a Questão», as recomendações mais imediatas podem ser resumidas em «Dicas para Melhorar a Voz»:

  • Descontrair. Respire fundo. Não pressione os cotovelos. Evite o mais possível a tensão nos ombros e na nuca, pois influirá negativamente sobre as cordas vocais.
  • Exercitar a voz. Oscile para trás e para diante enquanto recita algo. Faça este exercício durante meia hora. Assim, melhorará a sua capacidade de respiração, ao mesmo tempo que aumenta a caixa de ressonância do corpo.
  • Treinar a fala. Faça este exercício: fale ao mesmo tempo que segura uma rolha entre os dentes. Melhorará a articulação das palavras e deslocará a fala emitida, da garganta para a cavidade bucal.
  • As pausas. Durante um discurso faça pausas. A respiração abdominal simples - pela boca - serve para as pausas curtas, e a abdominal-costal - pelo nariz - para as longas. A distribuição das pausas e silêncios, feita com oportunidade e justeza, evita a monotonia, ao mesmo tempo que gradua as entoações, tornando leve e emotiva a articulação.
  • A respiração. A principal regra da respiração é que nunca se deve sentir a necessidade de respirar.


(*) Embora divulgue livremente o seu conteúdo no exercício do direito à liberdade de expressão, é importante ressaltar que este site não está filiado a nenhum partido político, nem participa, direta ou indiretamente, em ações de propaganda político-partidária.

A Linguagem do Corpo


«A Linguagem do Corpo» surge no alinhamento do post anterior «Ser ou parecer, eis a questão!». Um olhar atento à nossa linguagem corporal revelará, em certas ocasiões, muito sobre nós mesmos. Eis o significado de alguns dos gestos e posturas mais habituais ao longo de uma conversa:


  • Segurar no copo com as duas mãos em frente do corpo: defesa contra uma conversa franca.
  • Girar a cintura e os ombros: não aceitamos a comunicação de que estamos a ser alvo.
  • De pé com as pernas afastadas: disposição para entrar em luta.
  • Espalhar os documentos sobre uma mesa de reuniões: demonstração de poder sem concessões.
  • Encaixar os dedos das mãos, como um 'teto': gesto de defesa.
  • Dirigir esse 'teto' para a outra pessoa: não se admite réplicas.
  • Agitar as mãos violentamente: cuidado, pode agredir.
  • A pessoa sentada à direita do chefe numa mesa de reuniões: a segunda pessoa mais importante. Atencão, muita gente tende a desprezar este elemento fundamental na mesa de negócios.
  • O empregado que se senta precisamente diante do chefe numa mesa redonda: ameaça de confrontação.
  • Os negociadores sentam-se um em cada extremo de uma mesa retangular: ameaça de confronto.
  • Os negociadores sentem-se frente a frente, de cada um dos lados de uma mesa retangular: guerra de poder, embora sem inimizade.
  • Os negociadores sentam-se um ao lado do outro: clima construtivo.


Ser ou Parecer, Eis a Questão!

Trata-se de um ramo do conhecimento ainda envolto em bastante controvérsia, mas já com alguns especialistas em Portugal: a ciência da comunicação não verbal. Segundo os teóricos, que se socorrem da psicologia, cinésica e até da etologia, os gestos transmitem inúmeras informações sobre a personalidade e o estado de espírito, e estamos naturalmente treinados, uns mais do que outros, para os interpretar. Ainda mais polémica é a teoria de que os traços do rosto espelham o caráter, mas deixo esse conjunto de códigos para outra ocasião.

A cinésica veio para ficar


Pouco se fala nessa ciência, mas na realidade somos diariamente confrontados com essa técnica através dos meios televisivos. Expostos, denunciados pelo zoom, qualquer olhar, postura, gesto ou tom de voz diz mais sobre o que somos e pensamos do que um elaborado discurso. Pode parecer ficção aos olhos de muitos, vidência para muitos outros, mas é uma temível ciência muito procurada por figuras públicas (normalmente ocupantes de posições mediáticas elevadas). Nenhum disfarce resiste ao escrutínio dos (verdadeiros) especialistas. No fundo, se é possível fazer uma leitura correta desse conjunto de códigos, a sua escrita torna-se então possível. Isto é, entender essa mecânica a partir das fontes naturais permite-nos trabalhar nela de forma artificial, limando, subtraindo ou acrescentando. Porém isso não é assim tão fácil. O resultado fica largamente dependente das capacidades reais do analista tratante e das capacidades de adaptação de quem procura estes serviços. Modificar tendências naturais e/ou controlar impulsos não está ao alcance de todos. O tratamento pode ser extremamente violento e penoso. Quer se trate de um artista, político ou futebolista, existem indivíduos cuja mecânica natural não permite grandes manobras.

Se métodos analíticos rígidos deste género são imprescindíveis em televisão, algumas grandes empresas requisitam igualmente estes 'serviços' por ocasião de contratação. Em certos casos scanear o perfil do candidato pode revelar-se útil. O modo de se apresentar e de caminhar, o olhar ou a forma como a pessoa se senta podem fornecer-nos pistas fiáveis sobre a personalidade do indivíduo e ser um fator chave para determinar quem deve ascender a determinado lugar de responsabilidade. Em alguns casos quem procura emprego e/ou se propõe a determinados cargos não calcula até que ponto a sua candidatura está a ser estudada (nota: quando isso acontece, não adianta adotar falsas posturas, pois em 99% dos casos as análises baseiam-se numa série de astuciosos 'imprevistos' meticulosamente preparados). A gravação em vídeo é frequentemente o meio usado. Nestes casos, as imagens gravadas da entrevista são submetidas à leitura fina e implacável de especialistas. Dotados de umas capacidades extraordinárias de observação, alguns profissionais do audiovisual, apesar de praticantes noutro tipo de exercício, são ocasionalmente procurados para este efeito. Este tipo de análise, apesar de pouco usual em Portugal, tem vindo a levantar inúmeras reações, pondo em causa diversos tópicos como o 'direito à privacidade' e à 'igualdade de oportunidades', entre outros.

Albert MehrabianDe facto, a aplicação das teorias de Sigmund Freud é demasiado complicada para o uso quotidiano, e está a ganhar adeptos esta variante mais simples da psicanálise: o conhecimento dos indivíduos à primeira vista. Conforme assegurado pelo antropólogo Albert Mehrabian, professor da Universidade da Califórnia (Estados Unidos) e perito em técnicas de comunicação não verbal (cinésica) numa conversa frente a frente, apenas sete por cento do impacto da mensagem se deve às palavras. Pelo contrário, 38% corresponde aos matizes empregues, ao tom de voz e a outros sons, e pelo menos 55% resultam apenas de gestos e posturas. No entanto, apesar de haver consciência deste facto, nunca antes a sociedade e o mundo laboral deram tanto valor ao significado dos movimentos e atitudes das pessoas.

Admito o desconforto que essa técnica possa provocar na sociedade, mas a máxima desses profissionais (verdadeiramente habilitados) de comunicação, cinésica e atuação inclusive, pode resumir-se numa simples frase: mostra-me como te mexes ou falas, dir-te-ei quem és. Não será esta uma das principais fontes de trabalho dos atores?! Construir personagens implica sempre uma profunda pesquisa consagrada ao tema. Fora das molduras do entretenimento, é de facto uma ciência incomodativa, mas existe e, quando devidamente acionada, a sua conveniência é inquestionável. Visionarem-nos a alma através dos nossos gestos, impulsos ou reações, propositadamente despertadas, é invadir a mecânica do nosso subconsciente. Para muitos é falar em violação de espírito. Alguns autores, como os norte-americanos Friesen e Sorensen, consideram que o reflexo dos sentimentos básicos, quer dizer, alegria, a raiva, o desprezo, o interesse, a surpresa, a vergonha, o medo, a ira, o asco e a tristeza, é igual em todas as culturas. Enquanto a palavra se emprega para transmitir informação, a forma e a gestualidade servem para expressar atitudes pessoais. Precisamente, a publicação «Os Códigos Dos Cumprimentos» demonstra que a função ritual de simples gestos, neste caso o cumprimento não verbal, serve para manter a textura social. A sua importância cobre praticamente todas as culturas.

Charles Darwin - livrosA interpretação dos traços faciais é um outro exemplo que tem sido objeto de estudo científico desde há muito. Já no século XVIII se desenvolveram métodos para conhecer o significado da aparência externa, e Charles Darwin, na sua obra 'A Expressão e as Emoções no Homem e nos Animais', publicada em 1872, estabeleceu as bases dos estudos modernos das expressões faciais. A verdade é que, no nosso dia a dia, estamos constantemente a estabelecer relações entre os traços do rosto e a personalidade das pessoas com quem contactamos. Quase todos tendemos a forjar uma ideia das pessoas a partir da mera observação do seu retrato, e o mundo do entretenimento serve-se destas associações. No cinema e na televisão, encontramos a cada momento os rostos típicos do herói e do vilão. A aparência dos atores desperta no espectador sentimentos que acabam por se instituir. Mas será o rosto o retrato fiel da nossa alma? Uma das iniciativas mais sérias para procurar o significado preciso dos elementos do rosto foi promovida em 1937 pelo psiquiatra francês Louis Corman. Este investigador decidiu estudar cientificamente o carácter e as aptidões das pessoas através dos traços do rosto. O resultado das suas investigações foi o nascimento da morfopsicologia, uma disciplina que, embora discutida por muitos profissionais, vive atualmente um período de expansão.

E a voz nisto tudo, qual é o seu papel?


Uma das investigações levadas a cabo nesta área pelos psicólogos alemães Peter Borkenau e Anette Liebler traz reflexões mais profundas: a linguagem corporal permite extrair conclusões num grau nada desprezável de verosimilhança sobre alguns aspetos da personalidade das pessoas. Trata-se de uma ciência muito procurada pela classe política. Uma voz poderosa, clara e bem modulada pode transportar a pessoa mais tímida num magnífico orador. Mas sobre isso não vou entrar agora nos detalhes. No post «Dicas Para Melhorar a Voz» são examinados os principais alicerces da voz.

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