Na publicação «Os Códigos dos Cumprimentos I», datada de 2016, muito foi considerado acerca das saudações nas relações humanas. Contudo, trata-se apenas de um limitado e singelo conjunto de tópicos. A «cinésica» compõe uma ciência acerca da qual se pode dissertar com toda a minúcia, decerto, com definições e conceitos extremamente complexos. Evidentemente, investigações tais não se encontram nesta série publicada via website, destinada a um campo muito restrito. Aliás, sobre a psicologia dos comportamentos no âmbito do meio social já se descobriu mais do que se julga. Precisamente, seguindo a mesma linha da primeira parte, em «Os Códigos dos Cumprimentos II» são analisadas mais questões - que variam de cultura para cultura - relacionadas com o cumprimento ou a saudação. Além disso, pode ser útil considerar resumidamente outros pontos na trama da comunicação em geral.
Em «Os Códigos dos Comprimentos» I e II, de 2016 e 2017, não foram considerados os códigos de interação social adotados no quadro das Enfermidades Virais e que visam conter a propagação do novo coronavírus. Com efeito, as novas práticas de saudação adaptadas às medidas de higiene e etiqueta respiratória, elencadas pelas autoridades de saúde em regime excecional neste período, têm como objetivo reduzir a exposição e transmissão da doença no contexto da pandemia COVID-19. É provável que as saudações sanitárias surjam no âmbito dos hábitos e costumes emanantes da esfera protocolar.
Uma vez mais convém relembrar que, de facto, a «comunicação» não surge nesta série «Os Códigos dos Cumprimentos» (primeira e segunda parte) como fenómeno fundamental da nossa existência, que o é, mas antes como uma prática da industria - voltada para determinados setores - que merece especial atenção. Na atividade industrial ou profissional, as pessoas operam, não só num contexto de factos e situações objetivas, mas também num contexto subjetivo de atitudes e sentimentos. Neste conjunto de capítulos sobre as saudações aplicadas aos fenómenos culturais, as generalizações teóricas estão reduzidas a um mínimo.
Quando vamos ser apresentados ou começar um contacto com alguém, há que esquecer os problemas e as preocupações. As investigações provam que são precisos menos músculos para sorrir do que para franzir o sobrolho. Para além disso, o sorriso é o meio mais efetivo para mostrar que se está interessado em alguém, porque transmite calor e franqueza. Contudo, também do ponto de vista dos cumprimentos, sorriso e riso não devem ser confundidos. Os sentimentos (e as intenções) que conduzem ao riso são outros, pelo que a leitura será inevitável e/ou irremediavelmente outra. Deixando a decomposição da gelotologia para outra ocasião, no campo sócio-cultural 'simpatia' não é o mesmo que 'piada'.
Ações e reações
Quando falamos às pessoas com o fim de despertarmos nelas uma reação discriminada ou exata, devemos ter sempre em mente certas condições. Saber o mais possível sobre o indivíduo ou, neste caso, sobre o seu complexo cultural. Lembre-se que respeitar alguém implica aceitar o seu conceito de civilização, e aceitá-lo significa, sobretudo, acatar as suas regras quando penetramos ou invadimos - com boas intenções - o seu domínio. Se em certos casos um simples gesto pode valer mais que mil palavras, neste caso, se se tratar de uma figura de Estado por exemplo, pode representar mil discursos. Resumindo, ter uma finalidade clara e definida, e utilizar uma linguagem apropriada (e coerente) só irá otimizar os laços do primeiro contacto.
Duas pessoas não podem entrar em contacto sem haver transmissão e reação a sinais de qualquer tipo. Temos de encarar o cumprimento como parte de uma conjunção de inter-estímulo e inter-resposta. De facto, é raro que duas pessoas entrem em contacto sem criarem uma relação ou modificarem um vínculo já existente. Na verdade, uma relação já existente é um status muito flexível. Em geral, porque um todo orgânico é algo mais do que a simples soma das duas partes, qualquer tentativa para definir e examinar o problema da comunicação deve ir mais além do que a sua simples divisão (com o subsequente tratamento em separado) em discursos públicos, instruções ou notícias. Devo confessar que em todos os casos há provas suficientes de que estas aplicações exigem ser estudadas pacientemente e melhoradas; mas não podem ser isoladas umas das outras, nem 'inteligentemente' consideradas sem atender a princípios gerais coerentes - princípios esses fundamentais para todas as formas de afirmação ou de expressão intentada com a finalidade de obter um determinado resultado.
Cuidado com o olhar
Quando somos apresentados a alguém, se olharmos para cima, para baixo ou para os lados, embora a cinésica forneça a cada sentido ou ângulo - quando analisado num conjunto de indícios - um significado distinto e preciso, em todos os casos transmitiremos uma imagem infalível de instabilidade. Com efeito, uma insegurança que não inspira confiança, que mostra falta de interesse e aborrecimento. Isso não significa que seja preciso olhar diretamente nos olhos, a menos que se esteja apaixonado (mas nesse caso a dilatação das pupilas também entra no diagrama), já que pode ser ameaçador e desconcertante. Neste caso a leitura não é inteligível, e em certos casos pode originar um laborioso mal-entendido. O ideal é um contacto visual que se centra no triângulo formado pelos olhos e pela boca, e que desliza por outras partes do rosto, como o cabelo, o nariz e o queixo. No entanto, nunca é demais relembrar que, se o interlocutor for um daqueles peritos no campo da Comunicação Não-Verbal, a dissimulação não resulta.
Cumprimentos hipócritas
Ao contrário daquilo que determinadas figuras públicas ajeitam e muitas mais possam pensar, uma saudação carregada de acenos excessivos e exorbitantes não revela apreço ou simpatia. Sabe-se que o entusiasmo, quando é verdadeiro, arrasta com ele uma expressão muito própria, como pautada por uma curvatura sinusoidal - emocional - cuja energia irregular se assemelha a um passeio de montanha-russa. Assim, como exemplo da falta de sinceridade indica a intranquilidade, o exagero, a fala atabalhoada, a reação ou exclamação soberba, o olhar aparentemente seguro, de testa franzida, a transpiração, o gesto de humedecer os lábios, a gesticulação ou a ocultação da boca ou da cara, entre outros sinais. Saiba que quanto mais códigos destes se manifestarem, mais exata será a opinião obtida: há ali mentira. Decifrar a linguagem corporal é, em certos casos, uma espécie de cálculo de probabilidades. Todavia, quando o relatório dá conta de um determinado volume de sinais, coerentes, a infalibilidade vai dominando o veredicto final.
Sem pretender apoucar a abstração de Cesare Lombroso, o etólogo e zoólogo Desmond Morris, igualmente apreciado pelo seu trabalho desenvolvido em sociobiologia humana, chegou mesmo a afirmar que enquanto se diz uma mentira é inevitável uma ligeira tremura no rosto ou no pescoço, que frequentemente leva o mentiroso a tocar essa zona do corpo. Essa tese foi entretanto ganhando outras texturas, mais sólidas e mais complexas, ao serviço da Criminologia. Ainda sobre esta ciência, anexa à Psicologia Criminal, embora reconheça que alguns traços da personalidade possam declarar-se numa primeira abordagem, formar uma impressão assente no arquétipo pode ser irresponsável. Contudo, por exemplo, tal como Jo-Ellan Dimitrius, criminalista norte-americana já citada num contexto muito semelhante no artigo de 2012 «Dicas Para Melhorar a Voz», muitos analistas da linguagem não verbal, ou da cinésica, servem-se dos seus conhecimentos fora do ambiente laboral. Pois na verdade, para muitos, este treino profissional ajuda a evitar dolorosas desilusões na vida privada.
Cumprimentos e gestos
De facto, a comunicação gestual (tal como a verbal) encontra terreno propício durante o cumprimento. Esta linguagem não verbal particular é praticada de forma consciente ou inconsciente, diga-se, tanto por recém-nascidos como por adultos, para atrair a atenção de alguém, embora com motivações bem diferentes. Como vimos na introdução deste artigo, o sorriso é um deles.
Com efeito, a etologia, a ciência que estuda o comportamento dos animais, considera que muitos dos gestos dos bebés são inatos: sorriem para manter a mãe ao seu lado e, assim, ficar perto da fonte de alimento. Além disso, a título de curiosidade, descobriu-se que o rosto dos bebés inspira interesse e ternura nos animais, mesmo nos predadores, o que pode ser uma reminiscência de épocas pré-históricas, em que havia maior inter-relação entre o homem e aqueles animais. No limite, poderia mesmo considerar-se uma estratégia natural de sobrevivência.
Os adultos também empregam um grande número de gestos para mostrar interesse ou desinteresse. Pois fique a saber que as mulheres, mais perspicazes neste sentido, não só possuem uma maior coleção de gestos, como também os identificam mais depressa e melhor. São factos. O investigador australiano Allan Pease, carismático Sr. Linguagem Corporal, descreve de forma enfática a subtileza da linguagem gestual inata dos homens: «Na maioria dos casos, os rituais do cortejo são tão eficazes como tentar apanhar peixes num rio batendo-lhes na cabeça com um pau».
Cumprimentos complicados
Existem alguns fatores que prejudicam os cumprimentos, sobretudo, em determinados círculos, quando estes acontecem ou devem ser formalizados em público. Alguns exemplos históricos de cumprimentos eminentemente embaraçosos aconteceram a 21 de março de 2016, em Havana (Cuba), entre o 44º Presidente dos Estados Unidos Barack Obama e o seu homólogo cubano Raul Castro, a 24 de maio de 2017, no Vaticano, juntando o atual Presidente do Estados Unidos Donald Trump e o líder máximo da Igreja Católica Papa Francisco, e ainda a 11 de junho de 2018, em Singapura, perpetuando o tão esdrúxulo aperto de mão entre Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un. Existem duas fontes de perturbação que não devem, nunca, ser menosprezadas: as pessoas de trato difícil e as saudações que incorrem em circunstâncias embaraçosas ou delicadas. No primeiro caso, alguns estudos foram levados a cabo, e hoje é possível identificar, prever e desarmar eventuais obstáculos. Sabe-se que as saudações requerem especial atenção quando o interlocutor (previamente analisado):
- Fala muito ou muito pormenorizadamente.
- Foge constantemente aos assuntos, e geralmente não tem lógica.
- É uma pessoa impaciente e empunha decisões sem uma investigação completa.
- Não deseja considerar alternativas ou compromissos; fala unicamente em termos dos seus próprios interesses contra os benefícios dos outros.
- Faz afirmações dogmáticas, insustentáveis, não apresenta razões; faz considerações que precisam de ser esclarecidas ou ilustradas.
- Mete-se em duelos pessoais com os 'oponentes'; ignora grupos, equipas ou coletividades; gosta mais de vencer um argumento do que de solucionar um problema.
- Luta contra os outros para se sentir importante; não auxilia a mútua compreensão, a boa-vontade e a cooperação, mas desperta sentimentos de antagonismo como se estivesse na oposição.
- Não tem o hábito de prestar atenção; incomoda e interrompe.
Hoje, sem reduzir a civilidade, por meio de perguntas é possível bloquear (e até disciplinar) um indivíduo destes.
Cumprimentos sanitários
Se lançarmos um rápido olhar à panorâmica do mundo atual ficamos estupefactos ante a pauta de circunstâncias que se nos depara. Por um lado, um mundo reduzido nas suas dimensões, um mundo em que os diversos meios de comunicação quase dissiparam distâncias. Por exemplo, ser cortês, na vida privada, é o mesmo que ser protocolar na vida oficial, só que o primeiro aprende-se logo na infância, e o segundo vai-se aprendendo. Todavia, por outro lado não posso concluir este exame sem abordar os chamados cumprimentos sanitários, incentivados de supetão por motivos de saúde pública. Tratando-se de Enfermidades Virais associadas a uma epidemia mundial ou pandemia, neste caso a sociedade não dispõe de grande margem de adaptação para implementar novos hábitos e costumes (de higiene).
Com efeito, a propagação da doença COVID-19 (Coronavirus Disease), provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome) e identificada pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan (China), levou alguns países a dar indicações sobre novas formas de saudação entre os cidadãos. O aperto de mão, entre outros, sofreu um abalo fulminante.
Não querendo perder elementos importantes da conexão humana, uns usam a criatividade para manter os bons costumes da socialização. Entre as novas práticas de saudação destacam-se o toque do cotovelo, contacto com os pés (ou Wuhan Shake) e simples aceno.
Os Códigos dos Cumprimentos pelo Mundo
Cumprimento Japonês
No Japão saúda-se com uma reverência tanto maior quanto maior é o respeito, isto é, varia de acordo com o status relativo entre interlocutores. Se se quer mostrar grande deferência, a inclinação japónica relativa à condescendência pode mesmo chegar aos 45 graus.
Cumprimento Etíope
Para além de se tratar da segunda nação mais populosa da África e de ter sido um dos primeiros países cristãos, segundo alguns cientistas é também aqui que o Homo sapiens terá descoberto a vida. Seja como for, no que diz respeito à saudação, hoje os habitantes da Somália, Eritreia e Etiópia abraçam-se, e dão inclusive palmadas nas costas, mas sem nunca se tocarem no rosto. Neste território de língua amárica, os beijos estão reservados aos parentes mais próximos.
Cumprimento Tailandês
Alguns erros surgem com bastante frequência do ponto de vista da saudação tailandesa. Na verdade, o wai consiste em juntar as mãos (à esquerda) na frente do rosto e depois inclinar-se (à direita). Responde-se com outro wai, que significa ao mesmo tempo 'olá' ou 'bem- vindo', mas também usado para 'desculpe' e 'obrigado'.
Cumprimento Chinês
Na China é normal fazer uso do aplauso como forma de saudação, a que, neste caso, se deve responder de forma igual. Neste que é o maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, existem regras bastante rígidas. Em geral, esta cultura recusa o contacto físico. Neste caso, a pequena vénia é a saudação habitual. Apesar dos muitos acenos comportamentais que são tanto masculinos quanto femininos, há que ter em conta alguns detalhes nesta forma de saudação. Para os devidos efeitos de reverência, o homens formalizam-no (o cumprimento) com os braços encostados ao corpo; e as mulheres, com as mãos juntas.
Cumprimento Argentino
Aqui o cumprimento aparece muito efusivo. Com efeito, entre amigos íntimos e mulheres é normal beijar-se ou abraçar-se. Contudo, a despedida é normalmente realizada emitindo um beijo pelo ar.
Cumprimento Indiano
A saudação tradicional indiana é o chamado namaste. Este cumprimento consite em unir as palmas das mãos e fazer uma vénia. Muitos confundem-na com a saudação Thai ou wai, o que pode originar algum desagrado ou desentendimento. Lembre-se que na Índia, como na Etiópia, não é bem visto beijar-se quando se cumprimenta ou se despede.