Dicas Para Melhorar a Voz


A título de exemplo, tem reparado na postura de um apresentador de telejornal? Se achar que aquela postura é natural, isso significa que, apesar da sua dedução estar errada, a técnica existe e que a sua adoção foi corretamente aplicada.

A dupla de psicólogos Anette Liebler e Peter Borkenau estudou a valoração de um grupo de pessoas filmadas enquanto realizavam um teste de inteligência. Setenta por cento das opiniões emitidas pelos observadores da experiência adaptavam-se à realidade. No entanto, quando os psicólogos suprimiram a voz das gravações, a maioria das avaliações resultou inconclusiva. Por isso, tudo aponta para que, no que diz respeito à imagem formada sobre a inteligência, a voz e forma de falar estão profundamente interligadas. Por outro lado, parece que valorizamos o caráter guiados por estímulos chave como o sorriso, a amabilidade ou o contacto visual. Em consequência, as possibilidades de errar aumentam proporcionalmente à ausência desses estímulos.

Raquel Pimentel - Dicas para melhorar a voz
O Dr. Passos Coelho(*) controla muito bem os gestos e domina perfeitamente a voz (pausas, respiração, etc.). Dificilmente este indivíduo irá cometer gafes.

A ajudante judiciária Jo-Ellan Dimitrius engana-se menos do que muitos outros dos seus colegas ao avaliar as pessoas, talento que vê recompensado com receitas significativas. Jo-Ellan deve o seu trabalho a uma singularidade do direito penal dos Estados Unidos, que permite à defesa aceitar ou recusar os membros do júri, em processos de envergadura, em função das respostas dadas num interrogatório. A ajudante judiciária intui, a partir de detalhes aparentemente insignificantes, se a posição dos nomeados para o júri, relativamente ao réu, é de solidariedade ou de hostilidade.


Falar em público


Mas antes de mais, lembre-se que falar corretamente não se confina a uma boa respiração, dicção, pronúncia, emissão de voz ou distribuição das pausas. Se pensa que saber lidar com o público é o mesmo que extasiar ou graçolar nas redes sociais, desengane-se. Pisar o palco e enfrentar o público ou as câmaras, isto é, submeter-se frontalmente aos humores de milhares de pessoas, requer outro tipo de coragem e certamente outro tipo de vocação, bastante menos artificiais como é óbvio. De facto, se falar em público, com a intenção de informar, entreter ou influenciar, envolver plateias e multidões, a pressão é intensa. Aqui, uma má experiência pode revelar-se desastrosa, e em certos casos traumatizante. Tanto como saber dizer é necessário saber o que se diz. Uma postura confiante, objetiva e tranquila, completada por uma perfeita dicção, pressupõe a inteira compreensão do texto, da sua importância e do seu significado; em suma, o conhecimento completo das diretrizes, do script e dos objetivos a atingir. Em certos casos, o orador tem de possuir uma cultura geral - bastante favorecida - que lhe permita assimilar os pensamentos e dominar um determinado vocabulário, pois só assim todas as ideias que um texto mais complexo encerra confluirão para o verdadeiro e único sentido.

Se bem que este artigo tenha principalmente a ver com a voz, necessitamos de facto de conhecer um pouco melhor certos tópicos. Para os leitores que não estejam bem dentro destes assuntos, a abordagem seguinte pode tornar-se útil.


Respiração


Eis a fundação de toda a arte de dizer. Saber respirar, ao locutor, cantor, ator, político ou qualquer outro profissional cujo ofício necessita dos seus atributos vocais, é tão essencial como para nós se torna indispensável essa função natural, mesmo sem se saber como ou porquê se respira. É a respiração que orienta a articulação, a pontuação, a gesticulação e o próprio gesto. Portanto, não seria possível infletir ou apenas entoar, sem que a respiração - utilizada com determinada técnica - intervenha a desempenhar o seu papel fundamental.

Por um lado, respirar pode resumir-se a um fenómeno orgânico, natural e espontâneo, pois o ar que nos rodeia fornece aos tecidos do nosso corpo o oxigénio de que necessitam para oxidar os nutrientes derivados do sangue, a fim de proporcionar energia aos processos vitais. À exclusão daqueles animais suficientemente pequenos para que o oxigénio alcance as suas células por simples difusão (entrando e saindo através de aberturas no corpo), a respiração é o processo pelo qual o corpo adquire esse oxigénio e expulsa o dióxido de carbono residual. Em suma, quando observada em termos mecânicos, a respiração é efetuada pelo abaixamento do diafragma e elevação da caixa torácica, para a expansão dos pulmões e inspiração - depois o diafragma descontrai-se e a caixa torácica baixa, provocando a expiração. Deve-se ter presente que para o profissional, porém, saber respirar representa muito estudo, um método trabalhoso e complexo de dominar a sua expressão, passando pelo recorte dos volumes de voz, a intensidade melódica ou o timbre.

O mecanismo que gera a voz humana pode ser subdividido em três partes: os pulmões, as pregas vocais dentro da laringe e os articuladores - lábios, língua, dentes, palato duro, véu palatar e mandíbula.

A respiração abdominal (abdómino-diafragmática) é a mais indicada para os cantores ou atores (e alguns políticos), sobretudo porque facilita os seus movimentos, tornando-os mais 'elásticos' e, sem grande esforço ou cansaço, armazena uma grande quantidade de ar. Esta tática permite que o gesto se forme durante a inspiração. Sem ela é praticamente impossível dizer bem. Este tipo de respiração é que gera a conhecida 'voz do peito', de uso mais comum no teatro. A respiração abdominal é, na verdade, a primeira manifestação orgânica; a mais natural ou espontânea, embora seja a menos utilizada. Com efeito, é interessante verificar que só as crianças, e depois os idosos, recorrem a ela. Entretanto, isto é, na idade mediana, a respiração torácica dita 'costal' é quem domina a tendência respiratória no ser humano. Esta respiração revela-se incompatível com palcos ou tribunas porque, para além de fatigante, durante a inspiração provoca uma gesticulação forçada e inestética exercida ao nível dos ombros. Além disto, deixando esta movimentação dos músculos intercostais ou da cavidade torácica para publicações futuras, lembre-se apenas que, frente ao público, o gesto e a mímica fazem-se durante a inspiração e a voz é emitida por força da expiração.


Dicção


Voltando brevemente à respiração, para uma boa dicção a respiração pela boca é o método acertado. Neste caso, renova rapidamente o armazenamento de ar, estimulando com mais facilidade os órgãos mímicos que tornam a voz mais expressiva, mais sonora e indubitavelmente de timbre mais claro. No entanto, verdade seja dita, a respiração pela boca, e nisto se for utilizada de forma contínua, faz enrouquecer. Uma das soluções passa por, nas pausas mais longas, aproveitar o intervalo para respirar lentamente pelo nariz, dando descanso à garganta (naturalmente sufocada e seca).


Pronúncia


Esta enforma outro aspeto extremamente importante para os profissionais; pouco valorizado por uns e causador de grande apoquentação noutros. Sabe-se que entre as situações altamente suscetíveis de forçar parte dos ouvintes ou dos telespectadores a recorrer ao replay (quando o equipamento ou a emissão o permite), contam-se os problemas ligados à pronúncia ou dicção do locutor/apresentador. A palavra tem uma forma correta de ser pronunciada, isto é, deve ser dita, ou declamada, de acordo com as normas definidas pela ortoépia. Se as palavras forem cuidadosamente articuladas, evitar-se-ão os erros gramaticais e a pronúncia será correta e corrente.

Os defeitos mais comuns que normalmente contaminam a boa pronúncia resultam da voz nasalada, troca de letras, da fala ciciosa, do balbuciar, do falar precipitado, do 'R' gutural ou do gaguejar. Estes são alguns dos erros graves que prejudicam o modo de dizer e comprometem a interpretação do texto.


Emissão de voz


Não menos importante, este tópico diz respeito à intensidade com que é expedida a voz; desde o simples falar ao gritar e do sussurro ao gemido. Por exemplo, a emissão da voz utilizada em teatro diverge daquela que é defendida em televisão. Alguns atores manifestam dificuldades de adaptação quando entrelaçam os dois meios. Pois há que calcular a que distância a que nos queremos fazer ouvir e com que suporte técnico. Para além da distância, considera-se ainda as circunstâncias ligadas aos intervenientes ou personagens em estúdio (ou cena), e a média de intensidade que servirá de base para a modulação e 'revelar' os vários sentimentos implicados no guião.


Exercícios e recomendações


Existe um grande número de seminários e cursos destinados a educar a fala, mas, tal como prometido no post anterior «Ser ou Parecer, Eis a Questão», as recomendações mais imediatas podem ser resumidas em «Dicas para Melhorar a Voz»:

  • Descontrair. Respire fundo. Não pressione os cotovelos. Evite o mais possível a tensão nos ombros e na nuca, pois influirá negativamente sobre as cordas vocais.
  • Exercitar a voz. Oscile para trás e para diante enquanto recita algo. Faça este exercício durante meia hora. Assim, melhorará a sua capacidade de respiração, ao mesmo tempo que aumenta a caixa de ressonância do corpo.
  • Treinar a fala. Faça este exercício: fale ao mesmo tempo que segura uma rolha entre os dentes. Melhorará a articulação das palavras e deslocará a fala emitida, da garganta para a cavidade bucal.
  • As pausas. Durante um discurso faça pausas. A respiração abdominal simples - pela boca - serve para as pausas curtas, e a abdominal-costal - pelo nariz - para as longas. A distribuição das pausas e silêncios, feita com oportunidade e justeza, evita a monotonia, ao mesmo tempo que gradua as entoações, tornando leve e emotiva a articulação.
  • A respiração. A principal regra da respiração é que nunca se deve sentir a necessidade de respirar.


(*) Embora divulgue livremente o seu conteúdo no exercício do direito à liberdade de expressão, é importante ressaltar que este site não está filiado a nenhum partido político, nem participa, direta ou indiretamente, em ações de propaganda político-partidária.

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