A Matemática nas escolas
Porque será que estudantes sagazes, brilhantes e inteligentes evitam a todo o custo a Matemática? Ela é a chave para o sucesso científico, tecnológico, industrial e comercial, mas poucos são os que a ela se dedicam com prazer. Relatórios emitidos por entidades como a Sociedade Americana de Matemática têm vindo a apresentar, nos Estados Unidos, números preocupantes de doutoramentos na área. Esta preocupação não é nova. Na década de 80, o presidente do Comité da Sociedade, Edward A. Connors, declarou, ansioso, que isso representa uma ameaça para a segurança nacional e para a competitividade económica do país, no cenário internacional. Talvez devêssemos relacionar estas declarações com o atual panorama económico.
Muitos foram os alertas publicados no jornal de circulação diária The New York Times. Alguns provenientes da então chefe de orientação curricular da Universidade de Wesleyan, Sheila Tobiss. Preocupada com os sintomas de ansiedade na matemática dos jovens estudantes, em 1975, Sheila decidiu abrir uma Clínica para Ansiedade Matemática. Colocou símbolos matemáticos por toda a parte do edifício. Como parte do tratamento, encorajou os ’pacientes’ a falar das suas experiências nessa área. O sucesso dessa terapia era bastante motivador, antes de embater noutros obstáculos (posteriores) de peso como a Geometria. O abrandamento do ’curativo’ não desanimou Sheila Tobbis. Reduzindo as metas a atingir, a «Terapêutica de Tobbis» limitou-se a assegurar as bases essenciais de Matemática nos recém-formados em História ou Literatura, por exemplo.
A Geometria bloqueou os intentos de Sheila Tobbis
Independentemente das estratégias enfadonhas ou hábeis de ensino bem atuais, persiste o mito de que a Matemática trata de um assunto esotérico, necessário somente aos génios científicos. Os métodos de ensino são frequentemente apontados como principal causa. Falar, pensar e sobretudo escrever sobre Matemática é raro na escola, embora seja uma constante entre os profissionais. Indenpendentemente do ramo de atividade, não existe reunião prezável sem cálculos e raciocínios apoiados em números. Os estudantes imaginam que é preciso decorar para saber; os especialistas, ao contrário, preferem trabalhar as ideias, mesmo quando esquecem a tão ’santificada’ fórmula. É verdade que, para trabalhar as ideias, seria necessário desfrutar de um grau de liberdade que não existe na escola. Os livros, em geral, são manuais de instruções que não fixam a atenção dos formandos, impedindo-os de estabelecer aquilo que os psicólogos chamam de 'reforço espiral': insistir num mesmo ponto, aumentando, gradativamente, o nível de compreensão. Isto deve-se ao facto de que, na maioria das vezes, os assuntos são apresentados ao contrário do que sucedeu no processo de criação.
Ou seja: uma vez completados os teoremas e suas demonstrações, toda apresentação simbólica e verbal é reorganizada e polida segundo os cânones do método dedutivo. Isso dificulta a compreensão, pois elimina o processo de descoberta e não documenta o traço mais humano da produção. Muitas vezes sonega até mesmo a informação de que o produto final apresentado é o resultado de séculos de pensamentos, erros e acertos de centenas de mentes brilhantes. Talvez seja um consolo saber que alguns erros cometidos durante a escolaridade podem ter sido problemas que a humanidade levou séculos a vencer. Todos nós conhecemos no nosso círculo um ou dois elementos vocacionados para a aridez da matemática. Traçar a súmula do perfil destes especialistas não deixa de ser interessante. Matemáticos não são as pessoas mais inteligentes, necessariamente. São apenas aquelas que se conhecem bem. Sabem quando devem folhear um livro e quando se devem deter longa e atentamente sobre um determinado parágrafo. Não se julgam tão severamente quando não encontram a tão procurada resposta exata. São pacientes, tenazes e raramente muito rápidas.