(2ª Parte)
Gödel, diga-se a apego da verdade, não tinha a aparência típica de um revolucionário. Magro, modos pacatos, falava pouco e preferia a solidão. Em Princeton, costumava abrigar-se na cantina para fugir aos visitantes sempre ansiosos por ver uma celebridade como ele. Apesar desses atributos, as suas proposições eram realmente revolucionárias - tanto que provocaram longas e acesas discussões, não apenas entre matemáticos, mas também entre os filósofos. A ideia de que é impossível provar por meios matemáticos que a Matemática não esteja em contradições mudou radicalmente muita coisa. E isso também noutras matérias, como no caso da Física e a Biologia.
Mas eis que uma outra luz se acende no infinito túnel do conhecimento. Recentemente, relativamente, alguns teoremas tidos como indemonstráveis (pelo menos pelos meios ortodoxos) têm sido provados com a ajuda de calculadoras ou computadores. Por exemplo, o teorema das quatro cores. Bastam quatro cores para colorir um mapa (ou uma colcha de retalhos) de modo que nenhum país seja vizinho de outro da mesma cor. Em 1976, os americanos Wolfgang Haken e Kenneth Apple demonstraram isso mesmo, através de um computador durante 1200 horas.
Para muitos matemáticos, o uso de computadores em demonstrações desse tipo seria como usar um trator para escavar minuciosamente uma zona arqueológica. Acham que eles produzem uma cadeia finita de verificações, enquanto uma demonstração matemática deve ser breve, clara e concisa. Para mim, isso já é exagero. Encontramo-nos nos tempos modernos e por certo que neste século temos preocupações cuja resposta encontra-se na multidisciplinaridade. Mas é certo que jamais, como hoje, a intuição humana contrapôs-se à lógica mecânica. Quando Gödel garantia que os formalismos são limitados, no fundo estava a provar, em síntese, que o homem é e será sempre superior à máquina. Mesmo que a máquina seja a mais indicada para executar, cabe-nos, a nós humanos, pensar!
Fim
Devido à extensão do texto, resolvi dividir o post em duas partes. Para aceder à primeira parte desta publicação, clique em A Máquina ou Nós (1ª Parte)